Todas as crianças nascem para crescer, desenvolver, viver, amar e expressar as suas necessidades e sentimentos de autoproteção. As crianças precisam do respeito e da proteção dos adultos. Os pais são os guardiões e cuidadores das crianças – cuidam das necessidades emocionais e físicas para garantir que as necessidades da criança sejam atendidas. Nas relações saudáveis entre pais e filhos, os pais dão e os filhos recebem. O papel dos pais é fornecer cuidados e amor incondicional para que as crianças sejam livres para concentrarem a sua energia na aprendizagem e no crescimento feliz.
Por vezes as necessidades da criança são sacrificadas para cuidar das necessidades de um ou de ambos os pais. A chamada Parentificação, pode ser definida como uma inversão de papéis entre pais e filhos. Como resultado, os filhos parentificados são forçados a assumir responsabilidades e comportamentos adultos antes de estarem prontos para fazê-lo.
Parentificação pode ser vista em dois eixos distintos:
Parentificação emocional – ocorre quando uma criança ou adolescente tem o papel de confidente / mediador de (ou entre) pais e / ou membros da família. Uma fonte de constante apoio emocional e cuidado aos pais ou irmãos, como quando se torna confidente ou conselheiro dos pais, que podem compartilhar detalhes íntimos sobre suas preocupações e vidas pessoais, que a criança não está preparada nem desenvolvida emocionalmente para conhecer.
Parentificação física – quando a criança assume tarefas práticas reais de trabalho físico, a fim de ajudar no lar, como limpar, cozinhar, ajudar os irmãos mais novos a estudar, cuidar de outras tarefas e responsabilidades práticas.
Ser parentificado é uma experiência solitária, porque a criança não tem a quem recorrer para obter ajuda e orientação. Desenvolve um senso de obrigação de cuidador, resultando em imensa culpa sempre que deixa de fazê-lo ou tenta atender às suas próprias necessidades. Aprende a internalizar as suas lutas pessoais para se concentrar melhor nas suas muitas responsabilidades, na esperança de que finalmente receba amor. Do sacrifício essencial da infância e do desenvolvimento adequado do cérebro, a parentificação deixa as crianças vulneráveis a uma variedade de problemas, uma vez que crescem em adultos, incluindo depressão, ansiedade, baixa autoestima, impulsividade, raiva, problemas de confiança, perturbações alimentares, sentimentos crônicos de culpa, sensibilidade à rejeição e decepção, dificuldade em formar e manter relacionamentos.
Os pais também são filhos. E todos têm a sua própria história. Uma história única, e que só cada um conhece. Os pais com as melhores intenções podem sobrecarregar os filhos e criar inversões de papéis difíceis de ver na superfície.
A psicoterapia estabelece segurança e espaço para exploração interna, uma experiência repleta de curiosidade, calma, conexão, compaixão, centrada em si e no momento. Reconhecer os desafios que foram impostos pela vida, e entender as várias maneiras pelas quais o passado moldou os comportamentos e emoções do presente. Uma transformação interna ao encontro de si mesmo.
Reinaldo Diniz