Do contacto regular com pacientes passei a usar uma analogia evocativa, em que:
“Ter uma Perturbação Alimentar é como ser um passageiro num velho e frágil avião cheio de pessoas.
Algumas dessas pessoas estão chateadas, outras a chorar, e outras com medo e em pânico.
O avião está a passar por uma terrível tempestade, com noite cerrada e com muita turbulência.
Sentir isto tudo no seu corpo…
Depois olha para o cockpit do avião e percebe que não existe ninguém a pilotá-lo! Não há Self a pilotar o avião. Contudo, de alguma maneira, consegue passar pela tempestade, mas logo mais à frente tem outra tempestade e não tem a certeza de que vai conseguir.
Tem de se “agarrar” a algo, a algo que lhe permita seguir, qualquer coisa – e é aqui que surge a Perturbação Alimentar.
“Então o que faria?”
No geral, as pessoas tendem a responder que iriam tentar pilotar o avião, assim, podia tentar manobrá-lo e passo a passo procurar direcioná-lo para céu limpo, contactar a torre de controlo, acalmar os passageiros, ou seja, uma decisão de cada vez.
É exatamente isto que eu ajudo os meus pacientes a fazerem.
Como se percebeu até ao momento não fiz qualquer menção ao peso, comida, comer ou até imagem corporal.
As Perturbações Alimentares, sejam anorexia, bulimia ou binge, tendem a girar em torno do conceito de comida e peso. No entanto, as Perturbações Alimentares acabam por ser um subconjunto de perturbação de ansiedade. A ansiedade pode ser universal, mas todos lidamos e processamos a ansiedade de forma diferente. Os comportamentos e sintomas da Perturbação Alimentar são uma tentativa de acalmar o corpo, a mente e o espírito.