Época festiva mês depressivo!

Esta altura do ano cheia de luz e cor deveria supostamente aos olhos da sociedade e cultura ser um período de alegria e felicidade. Mas nem toda a gente se sente assim no Natal. Pode ser uma altura do ano especialmente difícil, sentimentos guardados por vezes por longos períodos podem ser experimentados e sentidos com maior intensidade. O Natal surge com elevadas expectativas, famílias perfeitas e felizes, celebração e prendas, mas nem todos nós vivemos nestes ideais.

Apesar da alta prevalência de depressão na comunidade, poucos estudos examinaram as relações entre as várias perturbações depressivas e os efeitos sobre os sintomas durante a época de Natal.

Um estudo de 1980 realizado por estudantes universitários da área de Chicago investigou 420 participantes sobre os seus sentimentos em relação ao período de Natal. Os três temas de estudo mais endossados foram solidão, ansiedade e desamparo. Concluíram que um dos factores mais relevantes nas depressões no Natal é a crença do indivíduo no mito de que toda a gente está a divertir-se e a socializar com a família – claramente um desejo, mas não necessariamente um facto (Peretti, 1980).

É fácil as pessoas compararem as suas emoções com o que assumem que os outros estão a experimentar ou o que supostamente deveriam sentir. O que é experienciado no mundo interno nem sempre corresponde ao que seria ideal e esperado no mundo externo.

Num outro estudo realizado no Canada em 1999, examinaram 55 pacientes que estavam a ser avaliados num serviço de emergência psiquiátrica durante a época de Natal. Os stressores mais comuns relatados foram solidão (40%) e ausência de família (38%). Ao descreverem os sentimentos sobre o dia de Natal a maioria dos participantes utilizou a palavra “deprimido” (Velamoor et al., 1999).

Algumas pessoas experimentam sentimentos de isolamento, pressão financeira ou predisposição para conflitos familiares que podem contribuir de forma negativa para ativarem sentimentos de stress, tensão, ansiedade, solidão etc.. Para quem recentemente perdeu alguém que lhe era querido o período de Natal pode intensificar sentimentos de perda e tristeza.

Não ter dinheiro suficiente ou medo de não ter dinheiro suficiente para compra de prendas pode levar a sentimentos de ansiedade, vergonha, culpa ou/e tristeza. Por exemplo, o stress poderá estar relacionado com as compras e organização de jantar em família, especialmente quando já existe desgaste e cansaço.

Enquanto há pessoas que se reúnem com as suas famílias e têm momentos muito agradáveis, também há pessoas que no fundo e mesmo que inseridas em convívios, apenas desejariam lá não estar. Naturalmente que para aqueles que estão sozinhos, poderá também ser especialmente doloroso. 

Encontrar maneiras para cuidar de si é sempre importante, e em particular em torno desta altura do ano. 

Criar barreiras e limites.

Se regra geral tem dificuldade em dizer não, poderá ser interessante refletir acerca de quanto está disposto a sacrificar nas suas próprias necessidades para cuidar dos outros. Naturalmente que modificar e criar limites no que se refere a cuidar dos outros poderá trazer, por exemplo, sentimentos de culpa e frustração. No entanto, não cuidar de si desta forma poderá levar a ressentimento, irritabilidade ou outros sentimentos difíceis. Talvez possa existir curiosidade no sentido de saber o que poderia ser feito de forma a garantir que que as suas necessidades e preferências não são inteiramente colocadas de lado.

Refletir acerca do que realmente quer para si

É muito fácil estar ocupado com muitas tarefas quando se aproxima o dia de Natal e fim de Ano. Tendo em consideração a tarefas em mãos, pode olhar-se para as tarefas com algum distanciamento e refletir acerca do que realmente importa para si.

Crie espaço para si mesmo

Tendo em consideração a época do ano, as pessoas passam mais tempo com outras pessoas. Para quem por vezes precisa de passar algum tempo sozinho, pode também organizar-se no sentido de criar um espaço para si mesmo. Fazer uma caminhada, ouvir música, ou algo que considera apropriado.

Manter o foco

Nestas alturas de maior agitação estamos muitas vezes preocupados com o futuro, e procurando ainda reorganizar o passado. Apesar dos pensamentos, sentimentos e emoções estarem muito presentes, é importante manter o foco na simplicidade das coisas do dia-a-dia e que por vezes vamos esquecendo, como ter uma boa conversa e passar um bom bocado.

Tenha uma conversa presente

Conseguir dar espaço a ouvir o outro nem sempre é tarefa fácil. Distanciar-se dos pensamentos e estar totalmente presente enquanto falam pode ser gratificante.

Acalme sua mente acalmando sua respiração

Quando se começa a ficar sobrecarregado por pensamentos e emoções fortes, a respiração muda. Normalmente a respiração torna-se mais rápida, defensiva e algumas pessoas até prendem a respiração. Estas mudanças interrompem o equilíbrio de oxigénio e dióxido de carbono no corpo alimentando respostas de luta e fuga promovendo a inacessibilidade ao pensamento claro e refletido. Praticar exercícios respiratórios contribui para o pensamento racional e poderá reduzir os riscos associados a agir com respostas por impulsividade e defesa.

Reinaldo Diniz

Referências:

Peretti, P. (1980). Holiday depression in young adults. Psychologia

Velamoor V., Voruganti L., Nadkarni N. (1999). Feelings about Christmas. Em psychiatric emergency patients. Soc Beh Pers.