Uma coisa é ficar desempregado num mercado que é relativamente dinâmico, outra é, quando as oportunidades de trabalho são escassas e até mesmo com um curriculum muito bom, conduzir à rejeição após rejeição. Não é difícil entender o desespero que se arrasta. O desemprego está cada vez mais alto, e com muitas pessoas presas ao desemprego de curta e cada vez mais longa duração. O mercado não está a oferecer a estas pessoas um caminho, devido à reduzida oferta e com condições cada vez piores. A maioria está ativamente à procura de trabalho, mas estão sujeitos ao estado da economia, cada vez mais despedimentos e um mercado de trabalho saturado. Esta impotência e falta de opções são muitas vezes fatores importantes no tipo de depressão e ansiedade, que se pode desenvolver em qualquer pessoa que esteja desempregado durante um longo período de tempo.
Além do mais, o trabalho está intimamente ligado à autoestima. Construir uma carreia, ganhar um ordenado, ser promovido e ganhar feedback positivo são tudo pontos de confiança. Ser capaz de trabalhar dá uma sensação de progressão à realização e ao senso de estrutura que um dia de trabalho impõe. As oportunidades de interação e experiências partilhadas com os colegas de trabalho terão um efeito negativo, se de repente desaparecem. Embora possa não parecer tão importante como a perda de salário, pode mesmo assim ter um efeito igualmente preocupante.
Mudanças forçadas nos hábitos também podem ter efeitos sobre quem está desempregado durante longos períodos. Muitos de nós aproveitamos os feriados e folgas para viajar, fazer compras ou jantaradas com amigos de forma a manter a nossa vida ativa e interessante. Sem dinheiro para pagar as contas e até para pôr combustível no carro, alguém que esteja desempregado pode muito facilmente isolar-se e sentir apenas as suas sombrias perspetivas.
Quando existe uma família envolvida, então a culpa é outro grande fator psicológico. O sentimento de fracasso em não ser capaz de “ganhar” para a sua própria família é irresistível e até mesmo que uma pessoa esteja a fazer de tudo o que pode para encontrar uma fonte de rendimento, é fácil esquecer que a culpa não é sua e que o mercado está a ser espremido.
Estudos demonstram que desemprego também tem sido associado ao funcionamento da família, uma vez que afeta a interação dos pais com seus filhos e com o seu cônjuge também. Pais desempregados passam mais tempo com seus filhos, mas a qualidade dessas interações sofre em comparação com os de pais empregados (Liker e Elder, 1983; Barling 1990). Por outro lado, não está claro como o desemprego desempenha um papel nesses eventos adversos e qual é a importância de outros fatores relacionados.
Muitas pessoas começam a culpar-se por aquilo que veem, olhando para os que dependem de si, mas que já nem contam consigo, o que só contribui para a depressão e diminuição dos níveis de autoestima.
É difícil fazer um RX ao desempregado, porque as coisas não são apenas o que parecem. É possível observar como as coisas funcionam num restaurante ou lojas, escritórios etc.. Mas, e observar as crises pessoais e familiares?!
Infelizmente, no mercado atual existem mais desempregados do que houve durante muitos anos. Embora a recuperação da economia deva ser um foco para os políticos e empresas, a recuperação daqueles que perderam os seus empregos durante a recessão também terá de ser um fator importante. Tratar os efeitos psicológicos do desemprego será, sem dúvida nenhuma, uma parte fundamental do processo.
Está desempregado e a sentir-se em baixo?
Algumas dicas:
A normalização: uma palavra muito chique tendo em conta as perspetivas, realmente. Se não consegue arranjar um trabalho, claro que a situação não é a melhor. Reconhecimento da situação é ruim e não é sobre si mesmo – a sua reação é naturalmente normal.
Ser específico: estar focado e não generalizar. Se fez um teste e não conseguiu passar, poderia pensar “talvez não posso fazer nada, talvez eu seja realmente incapaz, isto vai sempre continuar a acontecer”, em vez de apenas se sentir mal sobre o teste. De repente mudou o foco da sua negatividade – tentar identificar especificamente qual o problema em vez de fazer a questão desnecessariamente ampla.
Sim, candidatar-se a um emprego é quase um trabalho em si, mas deve continuar a fazer coisas de que gosta. As pessoas quando passam por um momento difícil têm tendência a se concentrarem no que elas sentem que têm de fazer, e as coisas que fazem sentirem-se felizes ficam pelo caminho. Tais como ver um filme, ler um livro, ver amigos etc..
Converse com um amigo: pois..lá está.. toda a gente diz isso, mas ter alguém com quem conversar o que está a sentir pode realmente dar-lhe uma perspetiva. Além disso, não ganha nada em fechar-se em si mesmo. É a pior coisa que pode fazer, só aumenta a sensação de isolamento.
Mantenha-se ativo: A rotina é muito importante. Se perceber que a sua rotina mudou, tente voltar ao que era antes. Ativo não significa apenas fisicamente, mas socialmente também. Obviamente, se não pode ir ao ginásio como antes, então procure manter algum tipo de atividade física – é diferente, mas ainda assim vai ajudar.
Como saber se é mais do que “apenas estar triste”
Já tentou as dicas sugeridas, e francamente não está a resultar! Se nada está a melhorar, e se se identifica com o que está descrito de seguida, poderá estar na hora de obter ajuda:
1. Sentimentos de culpa
2. Alteração nos padrões alimentares e de sono
3. Isolamento
4. Sentimentos de desesperança e suicídio
5. Sem vontade para sair da cama
6. Perda ou ganho de peso
7. Tudo parece mais difícil devido à falta de energia
O que fazer:
Tão forte como é, existem muitas maneiras de ajudá-lo a sentir-se melhor.
Converse com um profissional sobre como se sente. Com base em terapia, eventualmente medicação, aconselhamento ou outros métodos, com certeza irão ajudar.
Além disso, não se sente ou deite na sua cama e desligar-se afastado na sua própria cabeça, é crucial manter-se ligado ao mundo, e “cismar” com coisas podem levar a pensamentos esmagadoramente negativos. Isto é, com outras pessoas ou simplesmente com o mundo através da internet – sempre manter-se envolvido no que está a acontecer. Não fechar-se em si mesmo.
Tente realizar as tarefas que tem para fazer estabelecendo até mesmo pequenas metas. Não espere resultados milagrosos de imediato, mas força (tome um banho, vá sair, oiça música, responda a emails) vai ajudá-lo.
Reinaldo Diniz
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